Tempus fugit

Tempus fugit

Quem lhes escreve, aqui, é a Ana Luísa (ou Anoca, se preferirem!), prima do Rodrigo e administradora do conteúdo das redes sociais da campanha Ajude Rodrigo. Com apenas 11 dias de campanha nas redes sociais, estamos conseguindo atingir um público que, talvez, nem nos nossos mais profundos desejos, conseguiríamos supor. Por esse motivo, sinto-me na obrigação de vir aqui, em público, dar um relato bem pessoal, mas certa de que falo pelo Rodrigo e por toda a nossa família.

Desde o diagnóstico, em janeiro deste ano, estivemos cientes de todas as dificuldades por que passaríamos: a luta para vencer o quadro inicial de infecção que nos levou à identificação da leucemia; as transfusões de sangue e plaquetas; as visitas controladas; a ausência do toque; o primeiro ciclo da quimioterapia; a ansiedade pelas respostas das perguntas mais difíceis que somente os mais crédulos, em Deus ou na Ciência, conseguem responder, e de maneira sucinta: Deus quis assim ou é a vida.

Pouco importam, agora, as crenças de quem me lê. Tenho refletido, todos os dias, sobre o papel que cada acontecimento tem na construção do nosso caráter e na necessidade de revisarmos os nossos valores. Não sei o que é conviver com uma sentença de vida curta, para ser eufemista. Não sei. Não consigo ponderar o tamanho do sofrimento de um pai ou uma mãe que assistem à luta diária de um filho pela sobrevivência; ou de um cônjuge cujos sonhos a dois se dissipam por culpa de uma doença tão silenciosa e avassaladora. Não consigo. Mas, nisso tudo, consigo entender que, se nem tudo que nos acontece precisa, de fato, ter um porquê, não significa que não podemos aprender. Acaso ou não, estamos aqui para construirmos sentidos diversos para a vida que nos cabe, com mais ou menos dificuldades.

Assistindo, de longe, à luta do Rodrigo (ele está no Rio de Janeiro e eu, no Recife), nunca me senti tão perto. Nunca fomos próximos, porque são 7 anos de diferença de idade e quase 2.000km de chão que nos separam, mas essa coisa de sangue é mesmo muito forte e, neste momento tão complexo, de circunstâncias arredias, os laços apertam, o vínculo se fortalece. Mas somos família e isso, por si, já justificaria todo o meu empenho e o dos demais familiares, não é mesmo? Mas o que tenho visto, em mensagens privadas e públicas, em compartilhamentos, em menções no Facebook e no Instagram, é a participação de vocês, anônimos como nós, que se compadecem com a nossa angústia e ansiedade para encontrar o doador de medula compatível, que poderá salvar a vida do Rodrigo.

Essa participação de vocês, que nos trazem relatos de tratamentos bem sucedidos, palavras de conforto e motivação, e que compartilham nossos apelos e informações, tem sido fundamental para que consigamos explicar a mais e mais pessoas o que é a leucemia, a medula óssea, a importância de ser um doador voluntário e, sobretudo, o transplante de medula, ainda tão temido, por medos infundados.

As informações sobre esses temas ainda são difusas e insuficientes, o que faz com que cada compartilhamento seja muito importante. Por isso, eu, Ana Luísa, em nome do Rodrigo, da minha família e de todos os atuais e futuros pacientes com doenças no sangue, agradeço a todos vocês que vêm aqui e se informam, que curtem, que compartilham, que nos enviam mensagens de força e de fé, que estão se cadastrando no REDOME, que estão levando os amigos para se cadastrarem e que nos dirigem positividade, em orações e boas energias. Essa luta é do Rodrigo, do Beethoven, do Michel, da Raísa, da Rafaela, do Bruninho… mas também é nossa e do resto do mundo, porque hoje são eles que precisam, mas o amanhã, em sua imprevisibilidade, pode nos trocar de lugar e, se, porventura, esse infortúnio nos acontecer, nossas chances também serão de 1 a cada 100.000. Mas teremos mais esperanças, porque, quanto mais doadores voluntários cadastrados, maior é a possibilidade de encontrarmos o nosso salvador, não mais alheio, por aí.

Tempus fugit, isto é, o tempo foge. Irreversivelmente, ele foge.

Não demorem. Doem(-se), pois a vida, meus amigos, essa não espera.

Muito obrigada!

Foto: Marcelo Omena, para os 7 anos da Loja Reserva
Foto: Marcelo Omena | #7anosreserva

2 comentários sobre “Tempus fugit

  1. Fiquei muito frustada pois ano passado apareceu uma pessoa compatível e não pode doar por causa da minha idade 70 anos seria tão bom se eu nesta face da minha vida ainda pode-se traser vida a um jovem. Mas vou tentar ajudar de alguma forma.

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    1. Verônica, imaginamos a sua felicidade se tivesse podido ajudar esse paciente. 🙂 Infelizmente, a natureza humana não lhe permitiu, com essa idade, fazer esse bem tão grande, mas não se sinta frustrada, porque isso é algo alheio à sua vontade. ♡ Sinta-se feliz por esse sentimento genuíno de amor ao próximo que lhe toma. ❤

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