O medo de ser herói

O medo de ser herói

Dois dos principais fatores para o desencorajamento do cadastro como doador voluntário de medula óssea são o medo de agulha e o desconhecimento sobre de qual medula será realizado o transplante. Por esses motivos, nossa campanha tem se pautado na propagação de boas informações, porque a criação de medos só acontece quando nos mantemos à sombra da ignorância.

Antes de esclarecermos esses dois aspectos desencorajadores, gostaríamos de comentar que, na última sexta-feira (17), estivemos no HEMOPE (Recife) e, em conversa com as assistentes sociais, fomos informados de que várias pessoas que se cadastram como doadoras de medula óssea o fazem por sensibilização com uma ou outra campanha, sem ter a real dimensão do que é ser um doador de medula óssea. Por não terem a consciência da importância desse gesto, quando o paciente que mobilizou aquele cadastro consegue um doador compatível ou vem a óbito, várias pessoas entram em contato com os hemocentros e solicitam a retirada de seus nomes do REDOME. Isso é bastante grave, porque demonstra falta de reflexão e, também, de solidariedade.

O caso específico da doação de medula óssea nos parece a materialização perfeita da máxima fazer o bem sem olhar a quem. Isso porque, havendo compatibilidade com algum paciente, agora ou no futuro, as identidades dos doadores e dos pacientes serão mantidas em sigilo, por diversas questões éticas. Ao se declarar como doador voluntário de medula óssea, você se declara, então, a favor da vida, seja ela de quem for. Essa é, talvez, a maior beleza desse tipo de cadastro.

Mas e a tal da agulha?

Pois é. Para a realização do cadastro no REDOME, a agulha será fininha, como aquela usada nos exames de sangue rotineiros, e apenas uma pequena amostra do seu sangue, que varia de 5ml a 10ml, será retirada para ser submetida ao exame de histocompatibilidade genética (HLA), responsável pelo mapeamento genético tanto do doador quanto do receptor da medula. Em outros momentos, já explicamos que a compatibilidade entre medulas não se dá pelos tipos sanguíneos, mas pelo DNA. Não fosse isso, as chances de encontrar doadores compatíveis seriam infinitamente maiores, mas, em se tratando de genética, os pacientes precisam encontrar uma espécie de irmão, de mesmo pai e mesma mãe, sem qualquer parentesco real.

Cadastro no REDOME
Retirada da amostra de sangue para o cadastro no REDOME. (Foto: Anoca Freitas)

Quando você se submete a esse procedimento de coleta para o cadastro, não estará doando medula, também não está assegurado que será convocado a doar. A coleta, como dissemos anteriormente, é de uma pequena amostra de sangue, que será submetida a exames para classificação genética e, somente em casos de compatibilidade, é que você será convocado a doar medula.

Ampola para o cadastro
Ampola para a coleta da amostra de sangue. (Foto: Anoca Freitas)
Amostra de sangue
Amostra de sangue a ser submetida ao exame HLA. (Foto: Anoca Freitas)

O medo de outras pessoas, porém, não é em relação à agulha do cadastro, mas à do transplante, que é maior e, consequentemente, mais grossa. Aos desavisados, informamos que, em caso de os médicos optarem pelo procedimento de punção no osso da bacia, o doador estará sob anestesia, o que não lhe permitirá sentir dor, mas talvez alguns desconfortos na região da bacia, nada mais sério que isso.

E, já que falamos em bacia, é importante esclarecer que a medula óssea é um tecido gelatinoso que preenche o interior de vários dos nossos ossos, sendo popularmente chamada de tutano. A medula óssea é a parte do corpo responsável pela criação das células do nosso sangue e, na leucemia, o que acontece é que a medula doente/deficiente acaba criando descontroladamente os glóbulos brancos (leucócitos) e os lança na corrente sanguínea ainda imaturos, o que prejudica a imunidade do paciente pela leucemia acometido. Mas por que do osso da bacia? É lá onde está a maior concentração de medula óssea e, por isso, é de lá que os médicos extrairão uma amostra de 15% que poderá recompor toda a medula doente/deficiente de alguém (obs.: o doador tem esses 15% recompostos em pouquíssimas semanas).

Assim, desfazemos o outro medo: a medula óssea NÃO É A MEDULA ESPINHAL, ou seja, ao se submeter ao transplante de medula óssea, o doador não corre risco de paraplegia. 😉

Transplante de medula
Transplante de medula por punção no osso da bacia. (Fonte: Google images)

Esperamos, com esta postagem, termos esclarecido esses dois medos que assolam boa parte da população e, assim, tocar a consciência de novos potenciais doadores de medula óssea, para que o medo dê espaço à possibilidade de ser o herói da vida de alguém.

Um comentário sobre “O medo de ser herói

  1. Republicou isso em Paulosisinno's Bloge comentado:
    Dois dos principais fatores para o desencorajamento do cadastro como doador voluntário de medula óssea são o medo de agulha e o desconhecimento sobre de qual medula será realizado o transplante. Por esses motivos, essa campanha tem se pautado na propagação de boas informações, porque a criação de medos só acontece quando nos mantemos à sombra da ignorância.

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